Crianças que sofrem algum tipo de trauma têm um risco três vezes maior de desenvolver um transtorno mental grave na idade adulta, quando comparadas àquelas que não passaram por situações traumáticas. É o que revela o maior e mais completo estudo sobre esta relação direta já realizado.
Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Médicas do Hospital del Mar, em Barcelona, na Espanha, analisaram dados de 14 revisões ou meta-análises já publicadas, que envolviam mais de 93 mil pacientes.
Os resultados foram publicados em um artigo na revista científica European Archives of Psychiatry and Clinical Neuroscience.
Segundo os autores, os traumas mais comuns na infância são abusos emocionais, físicos e sexuais, além de negligência emocional ou física e também bullying escolar.
Estas são situações que, de acordo com os pesquisadores, causam danos cerebrais, uma sequela física, mas também psicológica, que pode se manifestar anos depois de outras formas.
Por exemplo, o abuso emocional, que é o mais comum, reflete-se em transtorno de ansiedade em adultos, que, coincidentemente, também é o mais prevalente na população.
O abuso sexual está fortemente relacionado ao desenvolvimento de transtorno borderline (personalidade limítrofe) em adultos – risco 15 vezes maior.
Outros traumas, como desastres naturais, mortes violentas ou abuso familiar também podem causar mudanças estruturais no cérebro que deixarão aquela criança mais propensa a ter transtornos mentais no futuro.
Os autores também descrevem transtornos bipolar, obsessivo-compulsivo e psicose como consequências de traumas.
“É a evidência mais sólida até hoje de que o trauma psicológico realmente é um fator de risco para sofrer posteriormente de um transtorno mental”, afirma em comunicado o autor principal do estudo, o pesquisador Benedikt Amann, do Grupo de Pesquisa em Saúde Mental do Hospital del Mar.
Para outra pesquisadora que participou do estudo, Bridget Hogg, as descobertas revelam a importância de médicos entenderem a biografia dos pacientes.
“Devemos tratar o trauma psicológico em nossos pacientes, mas também devemos atuar nas esferas política e social para investir mais na prevenção. Por exemplo, ajudar as famílias na educação e estabelecer programas para evitar casos de bullying escolar, que é um fator de risco muito importante para sofrer de transtorno mental, tanto para quem o recebe quanto para quem o exerce”, acrescenta Bridget.
O estudo contou também com a participação de pesquisadores brasileiros do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e do Hospital Clínic de Barcelona.
Fonte – R7