Secretário da Saúde da capital afirmou que a variante delta levou 9 semanas para predominar, e ômicron, 3 semanas. Informação sobre total de casos de Covid ainda está prejudicada após apagão de dados do Ministério da Saúde.
Secretário da Saúde da capital afirmou que a variante delta levou 9 semanas para predominar, e ômicron, 3 semanas. Informação sobre total de casos de Covid ainda está prejudicada após apagão de dados do Ministério da Saúde.
O levantamento faz parte do estudo que baseou a decisão da gestão municipal de cancelar o carnaval de rua na cidade neste ano.
Os dados, no entanto, não correspondem a todos casos confirmados de Covid-19 porque levam em consideração apenas os pacientes com sintomas gripais leves, e excluem os internados. Atualmente, as informações sobre o conjunto de casos confirmados de Covid-19, leves ou graves, estão prejudicadas pelo apagão de dados nos sistemas do Ministério da Saúde.
Apesar disso, o coordenador da Coordenaria de Vigilância em Saúde (Covisa) da capital, Luiz Arthur Vieira Caldeira, disse que a prefeitura faz uma estimativa sobre o atraso dos registros das últimas quatro semanas para calcular quantos casos leves de síndrome gripal a cidade tem atualmente.
A Covid leve, ou síndrome gripal, é caracterizada pela pessoa com quadro respiratório agudo, com pelo menos dois dos seguintes sinais e sintomas: febre, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos ou degustativos e que não fica internada. Síndrome respiratória aguda grave é quando a pessoa com esses ou mais sintomas é internada.
Casos de Covid confirmados por exame laboratorial no município de São Paulo e projeção do número real considerando atraso nas notificações — Foto: Secretaria Municipal de Saúde de SP
A administração municipal não publicou os dados completos dos estudos, apenas uma apresentação de slides com os gráficos. Também não é possível saber se os dados represados durante o período do apagão já foram totalmente inseridos nos sistemas.
Para o pesquisador da USP Paulo Inácio Prado, membro do Observatório Covid-19 BR, o valor exato de casos leves, e se eles de fato já passaram o pico de 2021, ainda é incerto. Mas a tendência de crescimento acelerado de casos “está muito clara, confirmada por diferentes fontes de dados e análises”.
“Em geral há bastante incerteza nos pontos finais da previsão. É normal isso, porque o dado dos últimos dias é menos completo, portanto temos mais incerteza sobre quantos casos de fato aconteceram e ainda não entraram na base de dados”, disse Prado.
“Mas está muito clara a tendência de crescimento acelerado, e foi muito importante que a prefeitura tenha dado este alerta”, explicou Paulo Inácio Prado, do Observatório Covid-19 BR.
Embora as internações por Covid-19 também tenham aumentado no estado, com um crescimento de 100% em 23 dias, como já mostrou reportagem do g1, a prefeitura da capital estima que apenas os casos leves da doença devem superar os números registrados no pico da doença.
Ao apresentar as projeções da Covid-19 na capital, a prefeitura também mostrou gráficos que mostram todos os casos de pacientes com síndrome gripal, seja Covid, seja gripe.
“Neste momento já podemos estar com praticamente o dobro do número de casos [de síndrome gripal] que nós tivemos no pico da pandemia, provocados pela P1 em março ou abril de 2021. Síndrome gripal, no total, incluindo Covid”, disse Caldeira.
Casos de Síndrome Gripal na cidade de São Paulo pela data do início dos sintomas — Foto: Secretaria Municipal de Saúde de SP
De acordo com Caldeira, o aumento de casos na capital corresponde ao verificado em outros países afetados pela variante ômicron do coronavírus, que é mais contagiosa.
“É uma disseminação extraordinária, uma explosão de disseminação na população. Por isso estamos observando as unidades de pronto atendimento lotadas, mas de casos leves. No entanto, a quantidade de pessoas que atinge ao mesmo tempo é mais que o dobro do que vimos na P1. Em que pese as pessoas estarem mais protegidas, mas muito mais contaminados nesse momento”, disse o representante da prefeitura.
Em entrevista à GloboNews na noite desta quinta (5), o secretário da Saúde da capital, Edson Aparecido, disse que a ômicron já representa 58% dos casos sequenciados na capital.
“Quando surgiu a ômicron na cidade de São Paulo, no dia 5 de dezembro, os testes sequenciados nos davam conta de 5% de ômicron. Na semana epidemiológica seguinte isso saltou para 37% dos casos. Ontem nos casos preliminares já atingiu 58%”, disse Aparecido.
“A delta levou nove semanas para ser a variante prevalente na cidade. A ômicron, em menos de três semanas, e ainda com os dados atrasados, em menos de três semanas já representa 60%. Estamos na subida de casos de ômicron. Janeiro e fevereiro serão meses que a gente vai enfrentar, sem dúvida nenhuma, uma onda muito grande com a nova variante”, completou.
Em nota, a prefeitura declarou que “realiza o monitoramento e a vigilância de acordo com os dados disponíveis em banco de notificações do governo federal” e que “os gráficos apresentados nesta quinta-feira (6), seguem o padrão de atraso de notificação de rotina e não leva em consideração os ataques sofridos pelo banco de dados do Ministério da Saúde.”
Covid X Gripe
O representante da Covisa também afirmou que, ao contrário do que aconteceu em dezembro de 2021, as internações por Covid voltaram a superar as de gripe no município.
“Na segunda quinzena de dezembro, nós observamos aumento na internação de pessoas que agravaram pelos vírus respiratórios. O que temos diferente é o vírus da influenza. O vírus que não apareceu o ano todo, nem sequer na sazonalidade, se disseminou, e por três semanas de dezembro foi o que mais causou internações na cidade. Já observamos que começou a cair o número de internações por influenza. Em contrapartida, há o aumento de internações por Covid”, disse Caldeira.
Pacientes internados com Síndrome Respiratória Aguda Grave na cidade de São Paulo. — Foto: Secretaria Municipal de Saúde
A mesma tendência também foi observada em hospitais particulares da cidade. Nos cinco primeiros dias do ano, o HCor registrou 1,5 mil atendimentos de pacientes com sintomas respiratórios. Destes, 51% testaram positivo para Covid-19, e apenas 6% para o vírus Influenza da gripe.
O Hospital Albert Einstein também registrou aumento dos casos de Covid na primeira semana de janeiro. Entre os dias 02 e 06, o hospital confirmou 3.675 casos de Covid-19 e 902 casos de Influenza. Atualmente, o hospital tem 60 pacientes internados com Covid e 23 com Influenza.
Aumento de internações no estado
A média diária de novas internações por suspeita ou confirmação de Covid-19 em enfermaria e UTI dobrou em 23 dias no estado de São Paulo. Diante do apagão nos dados de casos confirmados da doença, o indicador de internações é uma das principais estatísticas para o acompanhamento da pandemia no estado.
Nesta terça-feira (4), foram 566 novas internações, contra 283 em 13 de dezembro de 2021. Embora seja menor do que os dos piores momentos da pandemia, o número já é semelhante ao verificado em setembro de 2021. A média de internações considera o número de novas admissões em leitos de enfermaria ou de UTI de pacientes com confirmação ou suspeita de Covid-19.https://datawrapper.dwcdn.net/dvmJB/6/
Mesmo com o apagão das estatísticas de casos e mortes nas últimas semanas, outros indicadores apontam que a contaminação pelo coronavírus voltou a aumentar no estado. Além de internações, filas em postos de saúde e hospitais e testes positivos de Covid em farmácias cresceram.
Apagão de dados
Desde que o Ministério da Saúde afirmou ter sofrido um ataque hacker, em dezembro, estados enfrentaram dificuldades para extrair as informações sobre a doença dos sistemas oficiais.
Na terça-feira (4), o governo de São Paulo afirmou que a extração começou a ser normalizada. No entanto, especialistas afirmam que as informações represadas durante o período de instabilidade ainda não foram divulgadas completamente. Para eles, os governos ainda estão em um “voo cego” no acompanhamento dos dados de Covid-19.
Nesta quarta, o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, admitiu que os dados ainda não estão completos, e que parte dos casos que ocorreram durante o apagão ainda não foi contabilizada. Mesmo com o aumento nas internações, a gestão estadual descarta a adoção de novas medidas restritivas para conter o avanço da variante ômicron e da gripe.
Profissionais da saúde atendem paciente com Covid-19 em leito na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital do bairro Imirim, na zona norte de São Paulo — Foto: MISTER SHADOW/ASI/ESTADÃO CONTEÚDO
Já o coordenador-executivo do Comitê Científico do governo de São Paulo declarou que o apagão de dados ocorreu porque o estado confiou no sistema do Ministério da Saúde.
“Essa questão do apagão talvez seja a manifestação mais evidente do processo de desconstrução do sistema único de saúde que a gente está enfrentando. O estado confiou no Ministério da Saúde. Todos os casos confirmados são encaminhados diretamente dos municípios para o ministério, disse.
Para ele, a permanência do apagão equivale à sensação de estar “conduzindo um Boeing sem GPS e radar”. O médico avaliou ainda a possibilidade de que o estado criasse seu próprio sistema de notificação, para contornar as falhas do Ministério da Saúde. Esta solução já foi adotada por outros estados.
“Talvez a solução para isso seria criar um sistema próprio do estado de São Paulo, em que os municípios encaminham para o próprio estado”, afirmou.
Fonte: G1