O namorado foi o “anjo da guarda” da mulher que era mantida em cárcere privado e em situação análoga à escravidão em Teresina, conforme e advogada da vítima, Eliana Leal. A mulher, de 27 anos, e o namorado, de 58, que não quiseram ser identificados, se conheciam havia apenas dois meses, mas ele percebeu a situação em que ela vivia e procurou a polícia.
A mulher mal saía da casa onde era mantida em cárcere privado, mas deixava o local em alguns momentos, quando precisava levar a criança da qual cuidava para sessões de tratamento, já que o menino tem Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A mãe da criança, presa temporariamente suspeita de manter a mulher sob ameaça e cárcere privado, é Francisca Danielly Mesquita Medeiros, que é madrinha da vítima. Ela é fisioterapeuta, servidora pública, empresária e já foi candidata a deputada federal no Piauí nas eleições de 2018. Saiba mais sobre ela.
“Ela [vítima] levava o menino caminhando, porque mora nas proximidades de onde ele fazia o tratamento. Foi nesse trajeto que ela conheceu o namorado, eles começaram a conversar e ele teve acesso à situação como ela vivia. Ele foi como um anjo da guarda na vida dela, começou a gostar dela, e ela contou a situação em que vivia”, contou Eliana.
A advogada disse que depois de perceber que a namorada era mantida em cárcere, ele tomou a iniciativa de denunciar.
“Eles tiveram um namoro rápido [cerca de dois meses], e ele deu um celular pra ela, porque ele não conseguia falar com ela de outra forma. Quando a Danielly viu, tomou o aparelho, obrigou a vítima a ir à casa do namorado devolver. Ela [Danielly] ameaçou pra ele não procurar ela. Quando ele não teve mais contato, ele começou a buscar ajuda”, relatou a advogada.
Sem estudos, agredida e ameaçada
A vítima, segundo ela, está muito traumatizada, é analfabeta porque nunca teve a oportunidade de estudar e tinha muito medo de ser morta. Ela contou que a mulher tem marcas por todo o corpo de agressões como arranhões e hematomas.
Além disso, a situação em que vivia a impediu de desenvolver habilidades sociais, por isso não tinha desenvoltura para conversar e contar o que estava acontecendo ou buscar ajuda. Ela vivia ainda sob constantes ameaças de morte, além das graves agressões.
Ela era obrigada a trabalhar sem descanso, todos os dias da semana, realizando serviços domésticos, sem direito a férias ou qualquer outro direito trabalhista. A defesa da vítima vai buscar reparação trabalhista e moral.
“Vamos buscar os direitos dela na Justiça, já que a questão criminal já está em andamento com o inquérito policial. A suspeita está presa temporariamente e logo deve ser solicitada a prisão preventiva. Vamos pedir indenização por danos morais, por todo o trauma causado, as ameaças, os anos de vida e convivência com a família que lhe foram tirados. Além dos direitos trabalhistas dos últimos cinco anos [conforme prazo de prescrição previsto em lei], como salário, férias e 13º”, explicou a advogada.
Quem é a suspeita
Francisca Danielly Mesquita Medeiros, suspeita de manter a própria afilhada em cárcere privado e situação análoga à escravidão por 15 anos, é servidora pública, empresária e já foi candidata a deputada federal no Piauí nas eleições de 2018.
Danielly tem 38 anos, é fisioterapeuta e terapeuta ocupacional. Ela foi candidata a deputada pelo Avante, mas não foi eleita.
Em 2020, Danielly foi candidata a vereadora em Teresina. Contudo, ela acabou desistindo da candidatura, como consta no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A mulher foi presa em decorrência de um mandado de prisão temporária. Procurado pelo g1, a defesa de Danielly afirmou que não irá se manifestar sobre o assunto.
Fonte: g1 Piauí