Conforme a polícia, o ato foi cometido de forma bastante cruel, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico.
O mestrando Thiago Mayson, de 28 anos, praticou violência sexual contra a estudante Janaína Bezerra, 22 anos, quando a jovem já estava morta. Esta é a conclusão do inquérito da Polícia Civil do Piauí, divulgada nesta segunda-feira (6). Ele chegou a fazer fotos da vítima durante o estupro, enquanto ela sangrava, segundo a delegada Nathália Figueiredo.
Janaína Bezerra foi assassinada em uma sala da Universidade Federal do Piauí (UFPI), durante uma calourada entre a noite 27 e 28 de janeiro. A investigação policial e o laudo cadavérico apontaram que a jovem foi estuprada e teve o pescoço quebrado. Thiago Mayson da Silva Barbosa está preso suspeito do crime.
A delegada destacou que o crime foi cometido de forma bastante cruel, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico. Ela contou que o inquérito foi encerrado com indiciamento de Thiago Mayson pelo crime de homicídio duplamente qualificado.
O indiciamento também inclui os crimes de estupro, vilipêndio de cadáver (violência após a morte) e fraude processual, já que o suspeito tentou ocultar provas do crime.
As qualificadoras para o crime de homicídio são formas de somar outros crimes na acusação para aumentar a pena. No caso de Thiago Mayson, a polícia considera que ele cometeu o crime por meio cruel, já que a morte ocorreu por asfixia após a vítima ter o pescoço quebrado. O caso também é classificado como feminicídio.
A polícia informou que ele fez imagens da vítima ainda viva, mas em situação de muita vulnerabilidade.
“A partir da análise das imagens que ele teria registrado, muito possivelmente por volta das 5h a vítima já estava em óbito. No vídeo registrado entre a 1ª e a 2ª violência sexual, ela ainda estava com vida, mas visivelmente em situação de vulnerabilidade, já suja de sangue. A gente já sabe que houve uma violência sexual e ele, não satisfeito, cometeu outra”, contou a delegada.
Thiago Mayson teve a prisão decretada suspeito de ter matado a estudante de jornalismo na UFPI — Foto: Reprodução Rede Social
A delegada descreveu a forma como ele registrou fotos e vídeos da vítima. Em uma das imagens, ele mostra a mão com sangue da vítima. Para Nathália, o ato constitui uma espécie de “troféu” para o indiciado.
O prazo para a conclusão da investigação encerrava nesta segunda-feira, mas o inquérito foi concluído no domingo (5), para evitar que passasse o prazo de 10 dias e o suspeito, que está preso preventivamente, pudesse ser colocado em liberdade.
O advogado que representa a família de Janaína, Francisco Silva, acredita que Thiago Mayson será condenado com pena máxima pelo Poder Judiciário.
“São crimes que têm penas bastante altas, adequadas a cada um deles. Não posso vislumbrar a quantidade de pena, mas de forma geral, teremos aí uma condenação, certamente, acima dos 40 anos”, disse o advogado.
de Janaína da Silva Bezerra, de 22 anos, foi morta após ser estuprada e ter o pescoço quebrado em Teresina — Foto: Reprodução
‘Só temos a lamentar’
A missa de sétimo dia pela morte de Janaína foi marcada por muita emoção na manhã de sexta-feira, 3 de fevereiro.
Familiares, amigos e representantes da UFPI estiveram presentes e prestaram homenagens. A celebração aconteceu na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, bairro Fátima, Zona Leste de Teresina.
“Lamentamos a interrupção abrupta da vida da Janaína. E também do rapaz que, embora vivo, experimenta aquilo que a legislação prevê. Somos famílias feridas. Colegas, professores, funcionários, administração superior. Que o Senhor Jesus Cristo nos ajude a recomeçar, nos ajude a compreender”, disse durante a celebração o padre Amadeu Matias.
“E que essa celebração seja um momento de gratidão a Deus da parte de todos que a conheciam, um momento de intercessão por todos nós, para que retomemos nossas vidas, enfrentando os males que nos alcançam”, continuou o padre.
O reitor da UFPI, Gildásio Guedes, participou da missa e fez um discurso sobre o caso pela primeira vez. Ele se sentou ao lado do pai de Janaína, o mecânico Adão Bezerra Nascimento, das irmãs e de uma tia da jovem.
“Toda a instituição, aqui representada por alunos, professores, gestores e prestadores de serviços, está consternada. Estamos todos consternados. Somos solidários aos familiares e amigos nesse momento de dor.”
“Que Deus, em sua infinita bondade, esteja, nesse momento, conosco e esteja com Janaína onde ela estiver. Nós lamentamos qualquer tipo de violência, em qualquer circunstância. É uma dor muito forte, grande, a universidade está chorando pela vida da Janaína”, disse Guedes.
Na última terça-feira (31), estudantes da instituição chegaram a ocupar a reitoria em busca de um posicionamento do reitor.
Na ocasião, a administração superior da UFPI se comprometeu a analisar reivindicações dos estudantes relacionadas à segurança, como: reforço de vigilância, monitoramento por câmeras, poda de matos e árvores do campus Petrônio Portela, reparo da iluminação e criação de uma ouvidoria exclusiva para denúncias de assédio.
Pai de estudante assassinada na UFPI recebe cumprimentos durante missa de sétimo dia — Foto: Ilanna Serena/g1
“Eu sempre cuidava dela. Toda vez que ela ia sair pra universidade, eu dizia ‘tome cuidado, tome cuidado, quando você tiver chegando em casa, me ligue que vou lhe pegar na parada de ônibus e se não der pra você vir ônibus, pegue um uber e venha embora. Chegar aqui, se você não tiver o dinheiro, eu tenho, eu pago’. Tudo pra não acontecer isso, mas não teve jeito”, declarou o pai de Janaína.
“A mãe tá arrasada, passa a noite todinha chorando, e eu acalmando ela. [Digo] ‘Vamos tentar ter calma, vai ser resolvido, não vamos cair em depressão não, pelo amor de Deus. Se cair em depressão, piora a situação. Agora é lutar por justiça”, declarou o pai.
Janaína Bezerra da Silva, jovem negra de 22 anos, foi estuprada e morta dentro de uma sala da UFPI — Foto: Andrê Nascimento/g1
Estupro e morte de Janaína Bezerra
Janaína da Silva Bezerra foi estuprada e assassinada na madrugada do dia 28 de janeiro, sábado, durante uma festa de calourada ocorrida no espaço do Diretório Central dos Estudantes (DCE), no campus de Teresina, na Universidade Federal do Piauí.
O suspeito, Thiago Mayson da Silva Barbosa, é estudante do mestrado em matemática da instituição e foi encontrado com a jovem desacordada nos braços por seguranças da universidade, que conduziram a vítima e o suspeito ao Hospital da Primavera.
Conforme investigação da polícia, com base em colheita de provas e depoimentos, os dois já se conheciam e se encontraram na festa. O jovem, por usar uma das salas do mestrado para estudos, tinha a chave do local, onde levou a vítima.
Ele chegou a relatar à polícia que os dois tiveram sexo consensual, até que a jovem desmaiou em dois momentos. Na segunda vez, ele saiu da sala com a jovem nos braços, segundo ele, para buscar ajuda. Os seguranças informaram, segundo a polícia, que a jovem tinha manchas de sangue nas partes íntimas e já estava sem pulsação.
No hospital, a equipe médica relatou que ela já chegou sem vida. O laudo do IML constatou que ela sofreu estupro e morreu em decorrência de ter tido o pescoço quebrado, o que pode ter acontecido por torção ou tentativa de asfixia.
Janaína Bezerra foi morta dentro da UFPI — Foto: Reprodução
Universitários pedem segurança e justiça
Diversos movimentos estudantis de vários estados do Brasil anunciaram apoio às manifestações dos estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI) após a morte de Janaína.
Estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Universidade Federal do Pará (UEPA) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) publicaram em suas redes sociais data e horários das manifestações.
Estudantes da UFPI protestam pelo 3º dia após estupro e morte de aluna em sala da instituição — Foto: Andrê Nascimento/g1
As manifestações reivindicam combate ao feminicídio, contra o machismo e em defesa a vida de todas as mulheres. Pedem também mais segurança nas universidades públicas e justiça por Janaína.
Fonte: G1