Milton Ribeiro foi alvo de operação por suspeita de tráfico de influência no MEC (Foto: EVARISTO SA/AFP via Getty Images)
Quando ocupava o posto de ministro da Educação, Milton Ribeiro autorizou que contratados de obras federais de escolas fossem negociados em troca de reformas de igrejas. A informação foi revelada pelo Estadão.
As igrejas em questão eram de dois pastores já conhecidos do MEC: Gilmar Santos e Arilton Moura, ambos acusados de envolvimento em casos de corrupção no Ministério da Educação.
O caso foi delatado ao jornal pelo empresário Ailson Souto Trindade, do ramo da construção civil, que também é candidato a deputado estadual no Pará, pelo Progressista. A propina foi entregue em dinheiro vivo e era escondida na roda de uma caminhonete. O veículo levaria os valores de Belém até Goiânia, onde ficam a sede da igreja de Gilmar Santos e Arilton Moura.
A investigação sobre a suspeita de corrupção no MEC é alvo de um inquérito, que tramita de forma sigilosa no Supremo Tribunal Federal. Há suspeita de interferência do presidente Jair Bolsonaro (PL) na investigação contra o ex-ministro, que apurava a existência de um “gabinete paralelo” no ministério da Educação, que seria chefiado pelos pastores.
Gilmar Santos e Arilton Moura eram suspeitos de cobrar propina em dinheiro, compra de bíblias e até ouro em troca de liberar verbas da pasta e acesso ao então ministro Milton Ribeiro.
Trindade detalhou ao Estadão como funcionava o repasse de propina. “Funcionou assim: o ministro fez uma reunião com todos os prefeitos (no prédio do MEC, dia 13 de janeiro de 2021). Depois houve o coquetel, num andar mais acima. Lá, a gente conversou, teve essa conversa com o ministro. Eu não sabia nem quem era o ministro. Ele se apresentou: ‘Eu sou Milton, o ministro da Educação, e o Gilmar já me passou o que ele propôs para você e eu preciso colocar a tua empresa para ganhar licitações, para facilitar as licitações. Em troca você ajuda a igreja. O pastor Gilmar vai conversar com você em relação a tudo isso”, relatou o empresário.
Segundo Trindade, a ideia era mascarar a propina com um contrato falso entre a igreja de Gilmar Santos e a empresa dele.
“Eles falaram: ‘existe uma proposta para tu fazer isso (as obras)’. Aí eu disse: ‘que proposta?’. ‘Bom, a gente está precisando reformar umas igrejas e estamos precisando também construir alguns templos, no Maranhão, no Pará, e também outros lugares. Então estamos precisando de R$ 100 milhões para fazer isso’. Aí eu falei: ‘mas o que que eu vou ganhar em troca? Como é que vai acontecer? A igreja vai contratar minha empresa?’ ‘Não, a gente faz um contrato, entendeu? Faz o contrato com a empresa, a igreja contrata a tua empresa e eu consigo articular para tua empresa fazer as obras do governo federal”, contou.
Ailson Souto Trindade é candidato a deputado estadual no Pará e responde pelo crime de estelionato depois de ser acusado de aplicar golpes, prometendo liberar empréstimos para beneficiários do Bolsa Família.
Fonte: Yahoo