Dados do último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde mostram que o Piauí já registrou 19 casos de febre oropouche em 2024. O quantitativo é o segundo maior entre os estados da região Nordeste, atrás apenas da Bahia, que acumula 1.756 casos e duas mortes em decorrência da doença.
O Piauí, no entanto, pode ter registrado em 2023 duas mortes provocadas pela doença. O neurologista e virologista Marcelo Adriano disse ao Cidadeverde.com que exames de antígenos de dois pacientes do Hospital de Urgência de Teresina (HUT) apontaram que eles tiveram infecção pelo vírus da doença. As vítimas foram uma criança de nove meses natural da cidade de Itaueira e um homem de 48 anos vindo do Pará.
“Foi possível detectar por meio da detecção de anticorpos da classe IGN. Não foi o próprio vírus ou genoma que foi detectado, mas a defesa do organismo contra o vírus, e ela denuncia que tiveram contato recente com o vírus”, disse ao Cidadeverde.com
O médico explica que, ao contrário das duas mortes na Bahia confirmadas na última quinta-feira (25), que são consideradas as primeiras no mundo, nos pacientes do Piauí não foi detectado os genomas do vírus, mas os anticorpos que indicam que os pacientes foram acometidos pela doença. Portanto, não é possível confirmar que foi o vírus que provocou as mortes.
“É possível afirmar com certeza que foram infectados pelo vírus na época do adoecimento neurológico, agora se morreram por causa da infecção, não é possível confirmar”, explicou.
Ao todo, o Brasil já contabiliza 7.805 casos de febre oropouche, o que representa uma alta de 766% em relação ao número apresentado no ano passado. Deste total, mais de 78% se concentram em estados da região amazônica, considerada endêmica, mas os casos piauienses são considerados autóctones.
As mortes confirmadas na Bahia são consideradas as primeiras registradas no mundo. “Até o momento, não havia relato na literatura científica mundial sobre a ocorrência de óbito pela doença”, informou o Ministério da Saúde em comunicado.
Foto: Reprodução/MS
Os dois casos aconteceram no interior baiano, com mulheres de 24 e 21 anos. O primeiro foi em Camamu, em março, e o segundo em Valença, em maio, mas só foi confirmado pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) na segunda-feira (22).
O que é a febre oropouche?
Segundo o infectologista Marcelo Neubauer, a doença é uma arbovirose transmitida pela picada de um borrachudo, o Culicoides Paraense, e apresenta um mecanismo de transmissão parecido com o da dengue.
A grande diferença entre as duas, segundo o especialista, é que a oropouche conta com animais que podem ser seus hospedeiros. No caso da oropouche também, a contaminação acontece apenas em algumas áreas do país que são endêmicas, como a Amazônia, por exemplo.
A febre oropouche foi identificada pela primeira vez no Brasil em 1960. Depois disso, foram relatados casos isolados e surtos, principalmente na região amazônica. Também ocorreram registros da doença no Panamá, na Argentina, Bolívia, no Equador, Peru e na Venezuela.
Com a ampliação da investigação da infecção no país, foram confirmados 7.044 casos, com transmissão local em 16 estados.
Em 2024, o país já registrou 7.236 casos, o que representa uma alta de 766,6% em relação ao número apresentado em 2024.
Sintomas da febre oropuche:
- Febre;
- Mal-estar;
- Dores no corpo e na cabeça;
- Artralgia (dores nas articulações);
- Diarreia;
- Tontura;
- Náusea.
O infectologista Werciley Vieira Jr, disse que as dores no corpo na febre oropouche costumam ser mais intensas do que na dengue. No entanto, ele reitera que não é possível fazer o diagnóstico apenas observando o quadro sintomático do paciente.
Como é feito o diagnóstico?
O exame PCR (reação em cadeia da polimerase) possibilita a identificação do vírus no sangue e os testes sorológicos lgG e lgM mostram a presença de anticorpos específicos, também no sangue.
Como se prevenir?
A prevenção é parecida com os casos de dengue, chikungunya e outras doenças causadas por picada de mosquitos: uso de repelentes, blusa de manga longa e calça comprida em áreas de mata, além de telas e mosqueteiros.
Quais são os sinais de alerta?
Os principais indícios que devem deixar as pessoas atentas são a falta de hidratação, náusea, vômito e dor incontrolável. Pessoas imunossuprimidas, idosos, crianças e pessoas com comorbidades têm maior chance de complicações associadas à doença, segundo Vieira Jr.
Como é feito tratamento?
Ainda não existe um tratamento específico para a doença. O foco é aliviar os sintomas e manter o paciente hidratado.
Fonte: cidadeverde.com