A Polícia Federal revelou que, antes de planejar um golpe de Estado – que incluía monitoramento e possível assassinato de autoridades – militares já tinham como meta inicial questionar a confiabilidade das urnas eletrônicas para alegar fraudes nas eleições.
Em 4 de novembro de 2022, após a vitória de Lula sobre Bolsonaro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) teve que desmentir informações divulgadas por um argentino, alegando em uma live que determinados modelos de urnas haviam distorcido votos. O general Mário Fernandes, então o número dois da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro, discutiu o assunto com o comandante da pasta, general Luiz Eduardo Ramos. Fernandes apelou que as Forças Armadas incluíssem essas alegações em seu relatório sobre as eleições. Em 2022, os militares atuaram como entidade fiscalizadora do processo eleitoral no Brasil.
“O senhor tem que dar uma forçada de barra com o alto comando, cara. Com o General Freire Gomes, com o General Paulo Sérgio, p***. Cara, o relatório do MD [Ministério da Defesa], ele não pode ser diferente do que disse essa live argentina. E eu tenho certeza, pelo que o Vergara me disse, as conclusões são as mesmas. Isso é impactante, essa p***. Tá na cara que houve fraude, p***. Tá na cara, não dá mais pra gente aguentar esta p***, tá f***. Tá f***. E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa. Pra que ela se mantenha nas ruas, e aí sim, p***, talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer. O clamor popular, como foi em 64”, disse Fernandes ao General Ramos.
No dia 9 de novembro de 2022, as Forças Armadas divulgaram um relatório que não encontrou qualquer evidência de fraude nas eleições. Insatisfeito, Fernandes disse ter sugerido ao então presidente Jair Bolsonaro substituir novamente o comando do Ministério da Defesa, colocando de volta o general Braga Netto, que demonstrava maior alinhamento. A fala se deu durante uma conversa com o Coronel Marcelo Câmara, que atuava na ajudância de ordens da Presidência.
“Eu tava pensando aqui, sugeri o presidente até, p***, ele pensar em mudar de novo o MD [Ministério da Defesa], p***. Bota de novo o General Braga Neto lá. General Braga Neto tá indignado, p***, ele vai ter um apoio mais efetivo. Reestrutura de novo, p***. Ah, não, p***, aí vão alegar que eu tô mudando isso pra dar um golpe. Qualquer solução, Caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, né, sem quebrar cristais. Então, meu amigo, partir pra cima, apoio popular é o que não falta”, disse Fernandes.
Ainda em dezembro de 2022, antes da diplomação da chapa Lula/Alckmin, o grupo intensificou as articulações golpistas. O general Fernandes relatou a Mauro Cid ter conversado com Bolsonaro, que teria indicado que a diplomação não seria um impedimento para ações até o fim de seu mandato.
“Cid, boa noite. Meu amigo, antes de mais nada me desculpa estar te incomodando tanto no dia de hoje. Mas, porra, a gente não pode perder oportunidade. São duas coisas. A primeira, durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas, porra, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades”, disse Fernandes a Cid.
O ajudante de ordens de Bolsonaro disse:
“Pode deixar, general. Vou conversar com o presidente. O negócio é que ele tem essa personalidade às vezes. Ele espera, espera, espera, espera pra ver até onde vai, ver os apoios que tem. Só que, às vezes, o tempo tá curto, não dá pra esperar muito mais passar. Dia 12 seria… teria que ser antes do dia 12, mas com certeza não vai acontecer nada.”
Na semana passada, a Polícia Federal enviou ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, um pedido de indiciamento de Bolsonaro e mais 36 pessoas. A Procuradoria-Geral da República vai analisar o material para decidir se apresentará denúncia.
Fonte: cidadeverde.com