Número de menores de idade trabalhando no país cresceu após regime Talibã voltar ao poder, no ano passado.
Uma pesquisa recente da ONG Save the Children estimou que metade das famílias do país colocou as crianças para trabalhar para conseguir botar comida na mesa enquanto os meios de subsistência desapareceram.
Em nenhum lugar isso é mais claro do que nas muitas fábricas de tijolos na estrada ao norte da capital, Cabul. As condições nos fornos são difíceis mesmo para adultos. Mas, em quase todos eles, crianças de quatro ou cinco anos são encontradas trabalhando ao lado de suas famílias desde o início da manhã até o anoitecer no calor do verão.
Mohabbat, um menino de 9 anos, parou por um momento com uma expressão de dor enquanto carregava uma carga de carvão. “Minhas costas doem”, disse ele.
Questionado sobre o que desejava, ele primeiro perguntou: “O que é um desejo?” Então, uma vez explicado, ele ficou quieto por um momento, pensando. “Quero ir à escola e comer boa comida”, disse ele, e depois acrescentou: “Quero trabalhar bem para que possamos ter uma casa”.
A paisagem ao redor das fábricas é sombria e estéril, com as chaminés dos fornos bombeando fumaça preta e fuliginosa. As famílias vivem em casas de barro em ruínas próximas a fornalhas, cada uma com um canto onde fazem seus tijolos. Para a maioria, a refeição de um dia é pão embebido em chá.
Rahim tem três filhos trabalhando com ele em uma olaria, com idades entre 5 e 12 anos. As crianças estavam na escola, e Rahim disse que há muito resistia em colocá-los para trabalhar. Mas mesmo antes de o Talibã chegar ao poder, enquanto a guerra continuava e a economia piorava, ele disse que não tinha escolha.
“Não tem outro jeito”, disse. “Como eles podem estudar quando não temos pão para comer? A sobrevivência é mais importante.”
Recentemente, em um dos fornos, uma chuva leve começou, e a princípio as crianças estavam alegres, pensando que seria uma garoa refrescante no calor. Então o vento aumentou. Uma rajada de poeira os atingiu, cobrindo seus rostos. O ar ficou amarelo de poeira. Algumas das crianças não conseguiam abrir os olhos, mas continuavam trabalhando. A chuva se abriu em um aguaceiro.
As crianças estavam encharcadas. Um menino tinha água e lama escorrendo dele, mas, como os outros, ele disse que não poderia se abrigar sem terminar seu trabalho. Os riachos da chuva forte cavavam trincheiras na terra ao redor deles.
“Já estamos acostumados”, disse. Então ele voltou-se a outro menino: “Apresse-se, vamos terminar isso”.
Fonte – G1