
A situação climática no Piauí tem gerado preocupações entre especialistas e autoridades devido à irregularidade das chuvas, especialmente no sul do estado. Em entrevista ao Notícia da Manhã desta sexta-feira (7), o climatologista e Diretor de Prevenção e Mitigação da Defesa Civil do Piauí, Werton Costa, analisou o cenário atual e os possíveis impactos para a agricultura e a população local.
De acordo com o climatologista, o estado enfrenta um período atípico, caracterizado por uma distribuição irregular das chuvas tanto geograficamente quanto temporalmente.
“A gente vive um cenário bastante atípico no estado do Piauí, diferente dos outros períodos chuvosos. A gente tem uma irregularidade geográfica porque a chuva está se distribuindo de forma bastante desigual no espaço e uma irregularidade temporal porque a gente tem chuva, abre o tempo, uma semana inteira de veranico, volta a chuva, então a gente tem umas interrupções e isso para a agricultura é péssimo porque estamos tendo uma inconstância na chuva”, afirmou Costa.
Esse padrão de precipitações irregulares tem causado preocupações nas regiões mais afetadas, como o sul e o extremo sul do estado. Para a agricultura, que depende da regularidade das chuvas para garantir a produção de alimentos, a situação é ainda mais preocupante. “Em consequência disso, nós temos dois cenários: o sul e o extremo sul já mergulhando em uma estiagem, caminhando para uma seca em função de um fevereiro bastante irregular”, explicou o climatologista.
Enquanto isso, na região da Grande Teresina e no médio Parnaíba, as condições climáticas apresentam uma realidade diferente, com a presença de fortes temporais.
“Nós temos aqui na Grande Teresina, médio Parnaíba para o litoral, condições reiteradas de alerta de risco para chuva. Inclusive, hoje na madrugada, Parnaíba sofreu um forte temporal”, disse Costa, destacando a variação do clima nas regiões central e leste do estado.
Werton Costa também detalhou a dinâmica das nuvens que impactam o clima no Nordeste, especialmente no Piauí, e que contribuem para essa irregularidade nas chuvas. Ele explicou a atuação do chamado “canal de umidade”, uma sequência de nuvens que vem da África, responsáveis por trazer temporais para a região. No entanto, esse fenômeno não está ocorrendo como esperado. “Essas nuvens não estão posicionadas onde deveriam estar, elas estão no meio do mar, então elas estão indo praticamente para a Amazônia”, afirmou o climatologista, o que contribui para a falta de chuvas regulares no estado.
A expectativa para março é de que as chuvas voltem a se concentrar no sul do Piauí, mas ainda existem muitas incertezas.
“Março é o mês pico dos acumulados, é onde nós temos o maior volume de chuva esperado. Já existem indicadores de que a chuva retorna para o Sul. A grande pergunta que nós fazemos para os parceiros da meteorologia é se essa chuva será suficiente para suprir o déficit de fevereiro”, destacou Costa, indicando que a previsão para abril ainda é incerta.
Além disso, as previsões do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para os próximos meses indicam um cenário de forte irregularidade nas chuvas.
“A previsão do INPE para março, abril e maio concentra chuva no Norte, muita chuva na planície litorânea, no território dos cocais, mas quando chega no território da Serra da Capivara, que é uma região extremamente delicada, pouquíssima chuva”, revelou o climatologista.
Segundo o diretor, a Serra da Capivara, localizada no extremo sul do Piauí, está recebendo volumes de chuva abaixo do esperado, o que reforça a preocupação com a estiagem prolongada na região.
“Essa região do extremo sul tem volumes bastante baixos já sinalizando um indicativo de estiagem, caminhando para a seca. Às vezes a natureza nos dribla, mas por enquanto são os dados que nós temos e estamos trabalhando com esse cenário”, concluiu Werton Costa, alertando para a necessidade de planejamento e preparação diante da possibilidade de uma seca prolongada.
Com as chuvas instáveis e a previsão de estiagem no sul do estado, o diretor da Defesa Civil do Piauí informou que a instituição já está se preparando para possíveis contingências. Ele reforçou que a atenção deve ser redobrada nos próximos meses, com ações preventivas para minimizar os danos à população e à agricultura do estado.
Fonte: cidadeverde.com