Sem testes prévios ou um plano de voo traçado com cuidado, crianças e adolescentes foram empurrados para as telas de forma precoce quando a pandemia, em seu momento mais crítico, brecou os contatos físicos e pausou as aulas presenciais.
Agora, o uso irrestrito da internet e de redes sociais por adolescentes equivale a “deixar uma criança em praça pública e depois voltar para ver o que aconteceu”, nas palavras de Vera Iaconelli, doutora em psicanálise pela USP, diretora do Instituto Gerar de Psicanálise e colunista do jornal Folha de S.Paulo.
Mas, como explica a especialista, é possível identificar os sinais de alerta mais perceptíveis em crianças e adolescentes e saber que é preciso buscar ajuda profissional.
Quais são os sinais de alerta de que um adolescente está com algum problema mais grave e de que é preciso buscar ajuda de um profissional?
“Ficar lá no mundinho dele faz parte. Mas a gente tem, no dia a dia, algumas coisas, por exemplo, coisas físicas. A criança está se alimentando? A criança está cuidando do corpo? Ela está dormindo? Como é a aparência dessa criança? Está muito fragilizada? Engordou de mais, emagreceu de mais? Não dorme, troca o dia pela noite? Coisas que são muito fora do que é desejável”, diz ela.
“Outras coisas são aquelas crianças que estão sempre tristes, aquela criança que não conversa nunca, que você não consegue tirar um sorriso, não quer estar nunca com você ou com os adultos da família também é uma questão a se pensar”, complementa.
De acordo com Vera, também é válido observar se ele fica sozinho em algumas vezes, mas se tem amigos, se sai e vai em festas com a turma, se tem uma vida social, entre outras coisas.
“A gente vai ficando de olho neles e vai vendo se aquilo é só com a gente, [mas] se ele consegue curtir. Então, a criança muito fechada, a criança que você vai vendo uma fragilidade física, psicossomática, como a gente diria, é uma criança que inspira cuidados.
Vera também lista os sintomas mais gritantes entre adolescentes, como “aqueles que estão sempre ansiosos , sempre chorosos”, e o que fazer.
“Vale sempre sentar com a criança e escutá-la, mais do que falar. E, na dúvida, apelar ali para o pediatra da família, o tio ou a tia com quem ele tem mais proximidade, porque as vezes, ele não se abre com os pais justamente porque os pais são as pessoas mais envolvidas afetivamente e ele não consegue se abrir com as pessoas que ele mais ama.”
“E se ele não quiser falar com você, mas vocês está percebendo ali alguma coisa, você pode falar ‘ó, você não precisa falar comigo, mas tem gente que escuta o outro, tem psicólogo, tem psicoterapeutas’.”
Ouça a íntegra do episódio aqui.
Fonte: g1 Piauí