Nesta sexta (20), a crise de saúde entre os yanomami fez o Ministério da Saúde decretar Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional. A pasta informou que enviou uma equipe para averiguar a situação no território indígena na última segunda (16).
Ao chegar ao local, a equipe do ministério observou um cenário com crianças e idosos com problemas graves de saúde. Desnutrição, malária e infecção respiratória aguda (IRA) foram algumas das complicações que a pasta informou.
Apenas a malária foram mais de 11 mil casos em 2022 no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami. Para efeito de comparação, todo o território yanomami tem cerca de 30 mil habitantes. O número de casos da doença em 2022 é maior naqueles com idade superior a 50 anos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve na área e chamou a situação de “desumana”.
De acordo com o Sistema de Informações da Atenção à Saúde Indígena (Siasi), do Ministério da Saúde, foram registradas 99 mortes de crianças yanomami em 2022. As causas são variadas, incluindo desnutrição e Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag).
Três desses óbitos foram registrados de 24 a 27 de dezembro nas comunidades Keta, Kuniama e Lajahu. As causas documentadas são Srag, desidratação e desnutrição.
Os dados completos da missão do Ministério da Saúde devem ser finalizados em fevereiro. Isso porque os técnicos continuam no território até 25 de janeiro e depois contam com 15 dias para escrever o relatório.
“Técnicos estão analisando toda a situação de saúde na região, dos atendimentos prestados e insumos disponíveis”, informou o Ministério da Saúde.
Mesmo com os dados ainda não consolidados, uma sala de situação foi instaurada para tratar a crise que os Yanomamis enfrentam. Segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, já foram enviadas cestas básicas, insumos e medicamentos para o território.
Também foi instaurado o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE-Yanomami) para empregar medidas durante a situação de emergência nacional.
Outro problema já relatado anteriormente é em relação a verminoses. Em novembro de 2022, uma operação foi realizada pela PF (Polícia Federal) e pelo MPF (Ministério Público Federal) para combater um suposto desvio de recursos públicos destinados à compra de medicamentos aos yanomamis.
As supostas fraudes resultaram na retenção de medicamentos, em especial vermífugos, o que deixou 10.193 crianças desassistidas, segundo nota divulgada pela PF.
Dados utilizados pelo MPF apontam que, de 13.748 crianças aptas ao tratamento de verminoses no primeiro semestre de 2022, apenas 3.555 receberam tratamento.
O resultado do desfalque dos remédios foi um “aumento de infecções e manifestações de formas graves da doença, com crianças expelindo vermes pela boca”.
A situação da saúde entre os Yanomami, que tiveram o território demarcado há 30 anos, já era relatada anteriormente.
Publicado em abril de 2022, o levantamento “Yanomami sob ataque” realizado pela Associação Yanomami Hutukara e pela Associação Wanasseduume Ye’kwana, com assessoria técnica do ISA (Instituto Socioambiental), mostrava que uma crise na área já era observada, com aumento dos casos de malária e de desnutrição infantil.
A situação ganhou destaque com uma foto uma menina yanomami deitada em uma rede e com as costelas expostas.
Segundo o levantamento, Arathau, uma das regiões da terra indígena localizadas próxima ao Rio Parima, registrava o maior índice de desnutrição em todo o território. Entre as crianças com até cinco anos, cerca de 79,3% registrava baixo ou muito baixo peso.
O relatório realizado pelas associações também aponta o garimpo como um dos maiores problemas dos indígenas e que tem associação direta com o aumento da desnutrição. Por exemplo, a prática causa o desmate da terra, diminuindo terreno fértil. Além disso, o garimpo introduz doenças entre os indígenas, o que diminui a capacidade de trabalhar e cuidar das crianças.
A malária também é descrita no relatório como uma doença que registrou aumento de casos nos últimos anos. Ainda nas comunidades localizadas em Arathau, os casos cresceram cerca de 1127% entre 2018 e 2020.
Fonte – Folhapress (Samuel Fernandes)