O Piauí é um Estado que não possui as estações do ano bem definidas. Primavera, verão, outono e inverno são meras convenções utilizadas por marcas de roupas para definir coleções. Na realidade, por aqui existem duas estações bem distintas: o período da chuva e o período da seca.
O período da chuva, que começa em novembro no Sul do Piauí e finda em abril, com resquícios de chuva na região Norte, mostra como a dinâmica das precipitações na região é bem específica. Afinal, um território extenso e distribuído quase que de forma vertical no mapa, com inúmeros acidentes geográficos, bacias hidrográficas e dentro de uma vegetação ecotonal tende a ser único mesmo.
Meteorologia
É o que explica Sônia Feitosa, meteorologista da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semar). “Neste período chuvoso, no Sul do Piauí, as chuvas começaram em novembro. Não foram chuvas tão consistentes no início do mês, com boas chuvas apenas na última semana. Em Teresina e na região centro-norte, começaram as chuvas em dezembro. Foi do mesmo jeito, na semana do Natal choveu bastante”, lembra.
As chuvas se comportaram acima da média em novembro, e em dezembro dentro do que já era esperado na média histórica.
“Em janeiro já começam as chuvas no extremo Norte. Então, de Norte a Sul chove em janeiro. A previsão é de chuvas boas, como a previsão já dizia. Na região Centro-Norte, em janeiro, é quando começa a aumentar a precipitação. Em março é o mês que mais chove e a tendência é de ter mais chuva”, acrescenta.
Riscos de perda
Na região dos cerrados chove bem este ano e os produtores de soja não têm riscos de perdas. “Eles têm tecnologia de ponta, e não vão faltar chuvas. Mas a agricultura familiar realmente depende dessas chuvas. Principalmente em regiões onde chove menos. Existem regiões onde chove 600 mm, mas aumenta para 700 mm. Aumenta a média, mas continua pouco”, considera Sônia Feitosa.
A tendência é que diminuam as chuvas em abril. “Não esperamos muita diferença do que aconteceu ano passado. Fatos atípicos, com eventos críticos, estão mais recorrentes. Chuvas exageradas, enchentes, chuvas que causam transtornos. Em Teresina, no caso, uma chuva pouca é capaz de inundar a cidade, dependendo da região”, considera a meteorologista.
Efeitos do fenômeno La Niña
De acordo com Werton Costa, climatologista e professor da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), não existe um período chuvoso igual ao outro. “Nós passamos por três anos sob influência do fenômeno La Niña com chuvas abundantes em boa parte dos 224 municípios. Em 2023 há a finalização de um ciclo. Entre fevereiro e março, esse fenômeno deixa de atuar, com repercussão até março. Isso vai provocar mais regularidade”, considera.
Em 2023 ainda se esperam volumes intensos de chuvas, com algum grau de transtorno. No entanto, isso é positivo para a produção agrícola.
“A abundância do principal ativo da agricultura, que é a água, vai trazer benefícios. Principalmente para os municípios limítrofes com o Maranhão, ao longo do Rio Parnaíba, que serão beneficiados pela onda de umidade”, aponta.
Prolongamento das chuvas
Os quatro meses mais chuvosos do ano são janeiro, fevereiro, março e abril. ‘Há uma possibilidade de haver uma redução das chuvas em abril, ou um prolongamento das chuvas até maio. Em um episódio em que há possível estiagem e chuvas intensas, é preciso estar atento à assistência ao agricultor e a cidades distantes”, alerta o climatologista e professor universitário.
Assim como a expectativa de Sônia Feitosa, Werton Costa também acredita em fortes alagamentos na capital.
“Em Teresina, somos vulneráveis, por excelência, por uma história de planejamento e crescimento inadequado. Isso desrespeita questões sociais e ambientais. Teresina é uma mesopotâmia, entre dois rios, em toda uma estrutura hidrográfica distribuída em microbacias. Nas chuvas, elas ganham visibilidade e levam a situação de transtorno. Os alagamentos devem acontecer em áreas”, reforça.
Fonte: Meio Norte